O discurso anti-imigração em Portugal é impulsionado pelos deputados do partido de ultradireita Chega, que fará uma manifestação contra imigrantes no próximo domingo, em Lisboa.
Terceira força do Parlamento, a sigla tenta conectar criminalidade com imigração para convocar uma parte da população seduzida pelo discurso do “nós contra eles”. Incluindo grupos ultranacionalistas com adeptos do nazismo em suas fileiras.
Uma falsa conexão entre aumento do crime e disparada da imigração foi explorada em campanha pelo Chega e outros partidos. Mas os fatos desmentem, como foi explicado nesta matéria.
Mesmo assim, o Chega mantém a falsa premissa, que é fragilmente baseada em dados empíricos e redes sociais, como afirmou ao Portugal Giro o vice-presidente da sigla, deputado Pedro dos Santos Frazão.
A coluna entrou em contato com o parlamentar de 49 anos após ele comentar uma notícia no X sobre um assalto a banco em Santarém. Segundo o jornal “Público”, autoridades disseram que os assaltantes eram brasileiros.
“Assaltantes brasileiros levam 80 a 100 mil euros do Santander de Beja! A imigração descontrolada está a trazer a criminalidade desenfreada! Ao cuidado da AD (Aliança Democrática) que quer continuar a importar à farta todo o lixo da América do Sul”, escreveu no X o deputado.
Por telefone, a coluna disse ao parlamentar que não há análises comprovando que a imigração traz criminalidade a Portugal. Ele concordou que não há estudo, revelou que tira suas conclusões das redes sociais e declarou que os relatórios seriam camuflados.
— O problema é que não existe estudo sobre criminalidade e imigração. E os relatórios camuflam os países dos criminosos por indicação do Conselho de Ministros. A realidade está escondida e o que sabemos é o que lemos nas redes sociais. É empírico, é a visão das pessoas — disse Frazão.
O total de estrangeiros presos ao fim de 2023 era de 2.036. Em dezembro de 2013, eram 2.647 os presos estrangeiros em Portugal, de acordo com a DGRSP. É uma redução de 23% em dez anos.
Sendo que os estrangeiros residentes em 2013 eram 401 mil. Agora, são 1,04 milhão, o que representa um aumento de mais de 150%. Uma disparada de imigrantes sem relação com o número de presos.
Frazão mantém o discurso.
— O que eu posso dizer é que entendo que temos uma imigração boa, com brasileiros e venezuelanos que vêm trabalhar, e a má. O que foi mencionado na minha publicação no X foi o caso de delinquentes que já tinham ficha criminal e vieram com má intenção. Estes são o lixo humano da América do Sul — disse ele.
Questionado se a população não deveria ser preservada da nocividade do discurso que incita o ódio, Frazão respondeu o seguinte.
— As pessoas têm a oportunidade de me ouvir. E qualquer pessoa que tenha sensibilidade não generaliza. Queremos ter o controle das fronteiras para não importar lixo humano da América do Sul. Não queremos ver Portugal virar o Brasil, com o maior indicador de criminalidade do mundo(*), com assassinatos, milícias e organizações criminosas — disse.
Ontem, o governo da AD liderado pelo Partido Social Democrata (PSD), sigla que o Chega pressiona por políticas mais duras contra a imigração, criou um projeto de lei para endurecer a fiscalização dos imigrantes.
O texto, que ainda será enviado ao Parlamento, propõe uma unidade específica de polícia para expulsar imigrantes em situação irregular e controlar fronteiras.
A Casa do Brasil de Lisboa, que apoia imigrantes em Portugal, manifestou total “oposição à criação da Unidade de Estrangeiros e Fronteiras”.
“A imigração não é e não pode ser uma questão de polícia. A criação de um órgão que coloca sob vigilância as pessoas imigrantes, conferindo à Polícia de Segurança Pública o poder de fiscalizá-las de forma deliberada e arbitrária, reforça perigosamente uma falsa associação entre imigração e segurança pública”, ressaltou a Casa do Brasil.
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