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Ultradireita de Portugal faz protesto contra imigração: ʽNão queremos virar o Brasilʼ

Deputado do Chega liga imigrantes à criminalidade, mas admite não ter dados. Por outro lado, Portugal Giro revela: número de presos estrangeiros diminuiu 23% em dez anos

27/09/2024 às 10h54
Por: MTb:0003449/CE Fonte: O Globo
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Ultradireita de Portugal faz protesto contra imigração: ʽNão queremos virar o Brasilʼ

O discurso anti-imigração em Portugal é impulsionado pelos deputados do partido de ultradireita Chega, que fará uma manifestação contra imigrantes no próximo domingo, em Lisboa.

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Terceira força do Parlamento, a sigla tenta conectar criminalidade com imigração para convocar uma parte da população seduzida pelo discurso do “nós contra eles”. Incluindo grupos ultranacionalistas com adeptos do nazismo em suas fileiras.

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Uma falsa conexão entre aumento do crime e disparada da imigração foi explorada em campanha pelo Chega e outros partidos. Mas os fatos desmentem, como foi explicado nesta matéria.

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Mesmo assim, o Chega mantém a falsa premissa, que é fragilmente baseada em dados empíricos e redes sociais, como afirmou ao Portugal Giro o vice-presidente da sigla, deputado Pedro dos Santos Frazão.

A coluna entrou em contato com o parlamentar de 49 anos após ele comentar uma notícia no X sobre um assalto a banco em Santarém. Segundo o jornal “Público”, autoridades disseram que os assaltantes eram brasileiros.

“Assaltantes brasileiros levam 80 a 100 mil euros do Santander de Beja! A imigração descontrolada está a trazer a criminalidade desenfreada! Ao cuidado da AD (Aliança Democrática) que quer continuar a importar à farta todo o lixo da América do Sul”, escreveu no X o deputado.

 

Por telefone, a coluna disse ao parlamentar que não há análises comprovando que a imigração traz criminalidade a Portugal. Ele concordou que não há estudo, revelou que tira suas conclusões das redes sociais e declarou que os relatórios seriam camuflados.

— O problema é que não existe estudo sobre criminalidade e imigração. E os relatórios camuflam os países dos criminosos por indicação do Conselho de Ministros. A realidade está escondida e o que sabemos é o que lemos nas redes sociais. É empírico, é a visão das pessoas — disse Frazão.

O Portugal Giro consultou as estatísticas da população das prisões portuguesas. São dados da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), órgão responsável pela prevenção criminal, execução de penas e reinserção social.

O total de estrangeiros presos ao fim de 2023 era de 2.036. Em dezembro de 2013, eram 2.647 os presos estrangeiros em Portugal, de acordo com a DGRSP. É uma redução de 23% em dez anos.

Sendo que os estrangeiros residentes em 2013 eram 401 mil. Agora, são 1,04 milhão, o que representa um aumento de mais de 150%. Uma disparada de imigrantes sem relação com o número de presos.

 

"Lixo humano"

 

Frazão mantém o discurso.

— O que eu posso dizer é que entendo que temos uma imigração boa, com brasileiros e venezuelanos que vêm trabalhar, e a má. O que foi mencionado na minha publicação no X foi o caso de delinquentes que já tinham ficha criminal e vieram com má intenção. Estes são o lixo humano da América do Sul — disse ele.

Questionado se a população não deveria ser preservada da nocividade do discurso que incita o ódio, Frazão respondeu o seguinte.

— As pessoas têm a oportunidade de me ouvir. E qualquer pessoa que tenha sensibilidade não generaliza. Queremos ter o controle das fronteiras para não importar lixo humano da América do Sul. Não queremos ver Portugal virar o Brasil, com o maior indicador de criminalidade do mundo(*), com assassinatos, milícias e organizações criminosas — disse.

 

Unidade para fiscalizar imigrantes é criada

 

Ontem, o governo da AD liderado pelo Partido Social Democrata (PSD), sigla que o Chega pressiona por políticas mais duras contra a imigração, criou um projeto de lei para endurecer a fiscalização dos imigrantes.

O texto, que ainda será enviado ao Parlamento, propõe uma unidade específica de polícia para expulsar imigrantes em situação irregular e controlar fronteiras.

 

A Casa do Brasil de Lisboa, que apoia imigrantes em Portugal, manifestou total “oposição à criação da Unidade de Estrangeiros e Fronteiras”.

“A imigração não é e não pode ser uma questão de polícia. A criação de um órgão que coloca sob vigilância as pessoas imigrantes, conferindo à Polícia de Segurança Pública o poder de fiscalizá-las de forma deliberada e arbitrária, reforça perigosamente uma falsa associação entre imigração e segurança pública”, ressaltou a Casa do Brasil.

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