O movimento xiita libanês Hezbollah confirmou neste sábado a morte do seu líder, Hassan Nasrallah, em um bombardeio realizado na noite anterior contra prédios residenciais na região sul de Beirute, afirmando que o quartel-general da organização estava no subterrâneo de um dos edifícios.
A morte havia sido antecipada pelo Exército de Israel, embora uma fonte próxima do movimento tenha mencionado que o contato com o líder estava perdido desde sexta, e uma fonte tenha dito à agência de notícias Reuters que o Irã, aliado do Hezbollah, estava em contato com o grupo para determinar "os próximos passos" após a morte da liderança.
O ataque israelense de sexta-feira também matou o general sênior da Guarda Revolucionária do Irã, informou a agência de notícia estatal iraniana (IRNA). Abbas Nilforoushan era comandante de operações para o Líbano e a Síria, e está entre os oficiais iranianos de alto escalão mortos por Israel.
"Sayyed Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, juntou-se a seus grandes e imortais companheiros mártires, que ele liderou por cerca de 30 anos", disse o Hezbollah em um comunicado.
Sua morte representa um duro golpe para o grupo que lidera desde 1992, podendo também potencialmente desestabilizar o Líbano como um todo: raramente visto em público, Nasrallah era o único homem no país com o poder de fazer a guerra ou a paz. O ex-chefe do escritório do New York Times em Beirute e atual correspondente em Istambul, Ben Hubbard, também afirmou em análise que o grupo perdeu um líder experiente, com Nasrallah desfrutando de status quase mítico em sua base muçulmana xiita.
Segundo três altos funcionários da Defesa israelense ao jornal americano The New York Times, Israel sabia da localização do líder meses antes de lançar o ataque e decidiram atacá-lo agora porque acreditavam que tinham apenas uma curta janela de oportunidade antes que ele desaparecesse para um local diferente. A operação estava sendo planejada desde o início da semana, afirmaram duas autoridades. Mais de 80 bombas foram lançadas ao longo de um período de vários minutos para matá-lo, mas os oficiais não informaram o peso ou a fabricação das bombas.
Integrantes do Hezbollah encontraram e identificaram o corpo de Nasrallah na manhã deste sábado, junto com o de Ali Karake, o comandante da frente sul do movimento, frente em que grupo troca agressões diárias com Israel desde outubro. Considerado o número três militar do Hezbollah, Karake havia sido alvo de um ataque na última segunda-feira, também no subúrbio do sul de Beirute, segundo uma fonte ligada ao grupo. Naquele mesmo dia, o Hezbollah disse que o comandante havia escapado do ataque e que se encontrava em um "local seguro".
Poucas horas depois, o Exército israelense também anunciou a morte de Hassan Khalil Yassin, membro sênior do quartel-general do Hezbollah no ataque aéreo israelense em Dahieh, informou o jornal israelense Haaretz.
— A maioria dos líderes do Hezbollah foi eliminada — afirmou o porta-voz militar, o tenente coronel Nadav Shoshani, em uma coletiva de imprensa neste sábado, poucas horas após o anúncio da morte de Nasrallah pelas forças israelenses, mas afirmou que "ainda há um caminho a percorrer" na luta de Israel contra o Hezbollah, acrescentando que se acredita que o grupo tenha "dezenas de milhares de foguetes".
Nos últimos meses, ataques israelenses mataram Fuad Shukr, um dos fundadores do movimento e braço direito do líder Nasrallah; Ibrahim Aqil, morto no último dia 20, era comandante da temida unidade de elite do Hezbollah al-Radwan; Ali Karake; Ibrahim Kobeissi, que comandava várias unidades, entre elas uma de mísseis guiados de precisão; e Mohamed Srur, chefe da unidade de drones do Hezbollah, morto na última quinta-feira.
Segundo o chefe do Exército israelense, o tenete-general Herzi Halevi, "a mensagem é simples: qualquer um que ameace os cidadãos de Israel, nós saberemos como chegar até eles".
Todos os três oficiais que conversaram com o Times afirmaram que Hashem Safieddine, que há muito tempo é considerado um sucessor potencial de Nasrallah, pode ser anunciado em breve como o novo secretário-geral do Hezbollah. Safieddine é primo de Nasrallah e um ator-chave no trabalho político e social do movimento xiita libanês. Ele é um dos poucos líderes seniores restantes do Hezbollah que não estava presente no local do ataque. Apesar do palpite, a imprensa saudita afirma que o vice-líder do Hezbollah, Naim Qassem, será o substituto de Nasrallah.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã, que apoia e financia o Hezbollah, lamentou a morte de Nasrallah. Em uma publicação no X, o porta-voz da Chancelaria, Nasser Kanani, afirmou que "o caminho glorioso do líder da resistência, Hassan Nasrallah, continuará e seu objetivo sagrado será realizado na libertação de Quds (Jerusalém), se Deus quiser". O Hamas, que também integra o "Eixo da Resistência", também lamentou a morte da liderança, descrevendo o ataque do dia anterior como "ato terrorista covarde" e reiterou seu apoio Hezbollah e "à resistência islâmica no Líbano".
Já o Exército israelense afirmou que, com a morte do secretário-geral do Hezbollah, o "mundo é um lugar mais seguro". Mais cedo o porta-voz militar israelense, tenente-coronel Nadav Shoshani, anunciou no X que "Hassan Nasrallah está morto". Outro porta-voz militar, o capitão David Avraham, também confirmou à AFP que o chefe do Hezbollah havia sido "eliminado" após os ataques de sexta.
Rajadas esporádicas de tiro puderam ser escutadas em Beirute desde a morte de Nasrallah, informou um repórter do Times. Blindados do Exército libanês foram mobilizados em cruzamentos importantes na capital em antecipação a possíveis confrontos sectários, incluindo a ponto Burj al-Ghazal, que divide o bairro xiita, Khandaa al-Ghami, e o bairro cristão Achrafieh, onde manifestações ocorreram.
A morte de Nasrallah foi recebida com um misto de sentimentos entre os libaneses. No centro de Beirute, jornalistas da AFP ouviram um pedestre gritando "Meu Deus", enquanto mulheres choravam nas ruas logo após o Hezbollah anunciar a notícia. Ao jornal L'Orient Today, a voluntária em uma escola pública que acolhe pessoas deslocadas Sally Khoury disse que a cena "parece o dia do Juízo Final".
— Gostaria que fosse eu em vez do Sayede [Hassan Nasrallah], gostaria que fosse minha família inteira e não ele — afirmou Khadija Hammoud, atualmente deslocada pelo conflito, ao jornal.
Mas, no leste da capital, uma área dominada por rivais políticos do Hezbollah, a morte do líder xiita foi recebido com uma mistura de choque e euforia.
— Isso é história — disse um idoso, dono de um comércio de esquina. — O Líbano nunca mais será o mesmo.
Antes de ser confirmada, a imprensa iraniana minimizou o relato de Israel sobre a morte de Nasrallah, descrevendo-o como "rumores". Cartazes de Nasrallah foram erguidos em Teerã com o slogan "O Hezbollah está vivo".
Em um comunicado, o Exército israelense disse ter bombardeado durante a noite mais de 140 posições no Líbano, "em especial lançadores de foguetes direcionados contra civis israelenses, edifícios que armazenavam armas [...] e outros locais de infraestruturas terroristas, alguns integrados sob edifícios residenciais na área de Beirute".
Os ataques continuaram neste sábado contra o reduto do Hezbollah no sul de Beirute, fazendo com que famílias em pânico fugissem. Um ataque atingiu o segundo e o terceiro andares de um prédio, segundo uma autoridade de segurança libanesa. Um fotógrafo da AFP disse que dezenas de edifícios foram destruídos.
Após os pesados ataques de sexta-feira, Israel deu novos avisos para que as pessoas deixassem parte dos densamente povoados subúrbios de Dahiyeh antes do amanhecer. As Forças Armadas de Israel também anunciaram ataques no sábado na área de Bekaa, no leste do Líbano, e no sul.
Centenas de famílias passaram a noite ao ar livre, na Praça dos Mártires, no centro de Beirute, ou no calçadão à beira-mar.
Rihab Naseef, 56 anos, morador do sul de Beirute, dormiu do lado de fora de uma igreja.
— Nem sequer coloquei roupas na mala, nunca pensei que sairíamos apreciando e de repente nos encontraríamos nas ruas — disse Naseef à AFP.
Mín. 25° Máx. 28°